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SUCÇÃO DIGITAL NÃO NUTRITIVA: ABORDAGENS PSICOLÓGICAS, CLÍNICAS E CONDUTAS PREVENTIVAS

Data: 12/12/2025 | Comentário


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A sucção digital não nutritiva é um hábito comum na infância, caracterizado pelo ato de chupar o dedo sem finalidade alimentar. Embora seja considerada fisiológica nos primeiros meses de vida, sua persistência pode estar associada a fatores emocionais e trazer implicações para o desenvolvimento orofacial da criança.

Perspectiva Psicanalítica

Segundo a teoria psicanalítica clássica de Freud (1967), esse comportamento está relacionado à busca de prazer nas zonas erógenas da boca e dos lábios. Freud interpretava a sucção digital como uma forma de expressão simbólica de conflitos internos, em que a criança utiliza o hábito para chamar atenção para um problema emocional. Nessa abordagem, a repreensão direta por parte dos pais pode reforçar o comportamento, ao oferecer à criança a atenção desejada. Por isso, recomenda-se não chamar atenção para o hábito, mas sim investigar suas causas emocionais e propor alternativas saudáveis.

Abordagens Atuais

Estudos contemporâneos ampliam a compreensão do hábito, considerando fatores como insegurança, ansiedade, ausência de vínculo afetivo, necessidade de auto-regulação emocional e padrões familiares. A literatura atual também aponta que o tipo de alimentação (aleitamento materno exclusivo versus uso de mamadeira) pode influenciar na duração do hábito. Crianças que não recebem estímulo oral suficiente durante a alimentação tendem a manter comportamentos compensatórios por mais tempo.

Consequências Clínicas

A manutenção prolongada da sucção digital pode provocar alterações na oclusão dentária, como mordida aberta anterior, projeção dos incisivos superiores, alterações no palato e no crescimento ósseo da face. Tais alterações podem demandar intervenção ortodôntica, fonoaudiológica ou multidisciplinar, dependendo da idade e da gravidade do caso.

Condutas Preventivas e Alternativas

A recomendação atual é que o hábito de sucção não nutritiva seja gradualmente removido até os dois anos de idade. Essa faixa etária é considerada ideal para permitir a autocorreção de possíveis desarmonias nas arcadas dentárias. A partir dos três anos, o risco de alterações craniofaciais torna-se mais significativo.

Como alternativa ao dedo, a chupeta ortodôntica pode ser utilizada com cautela. As mais aceitáveis são aquelas com:

  • Bico ortodôntico voltado para cima, adaptado ao palato.
  • Bico achatado, que favorece o posicionamento da língua e reduz a separação dos lábios.
  • Base e argola com formato côncavo, acompanhando o perfil facial da criança, o que evita pressão excessiva sobre a região perioral e minimiza interferências no crescimento craniofacial.

Essas características ajudam a reduzir os impactos negativos sobre a musculatura oral e a estrutura óssea da criança. No entanto, o uso da chupeta deve ser racional, restrito a momentos de sono ou tensão emocional, e sempre acompanhado por um odontopediatra, ortodontista, psicólogo e psicoterapeuta.

Referências Bibliográficas

  1. Corrêa, M. S. N., & Corrêa, F. I. (2006). Sucção digital: uma abordagem fonoaudiológica. Revista CEFAC, 8(2), 242–248.
  2. Oliveira, M. D. S., & Ribeiro, C. A. (2010). Hábitos de sucção não nutritiva em crianças pré-escolares. Jornal de Pediatria, 86(4), 321–328.
  3. Silva, A. M. et al. (2021). Hábito deletério não nutritivo: sucção digital e a consequência mordida aberta. Revista de Odontologia da UNESP, 50(1), e20210003.

 

Profª. Esp. Daniela Teixeira de Queiroz Agostinho




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